segunda-feira, junho 23
pensei que fosse oceano;
era só um aquário.
pensei que fosse paris;
eram os 20 watts de uma lâmpada
no canto do cenário.
pensei que fosse mozart;
eram os acordes imperfeitos
de um jingle ordinário.
pensei que fosse o pecado maior;
era o mea-culpa
de um réu-primário...
pensei que fosse você...
mas era apenas o sol.
MARCOS CAIADO
Dentro de Mim Mora um Anjo
(Cacáso - Antônio Carlos de Brito)
Quem me vê assim cantando
não sabe nada de mim
dentro de mim mora um anjo
que tem a boca pintada
que tem as asas pintadas
que tem as unhas pintadas
que passa horas a fio
no espelho do toucador
dentro de mim mora um anjo
que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
montado sobre um cavalo
que ele sangra de espora
ele é meu lado de dentro
eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
que arrasta as suas medalhas
e que batuca pandeiro
que me prendeu nos seus laços
mas que é meu prisioneiro
acho que é colombina
acho que é bailarina
acho que é brasileiro.
Mar e Amor
(Cacáso - Antônio Carlos de Brito)
Amor Amor
Quando o mar
Quando o mar tem mais segredo
Não é quando ele se agita
Não é quando é tempestade
Nem é quando é ventania
Quando o amor tem mais segredo
É quando é calmaria
Quando o amor
Quando o amor tem mais perigo
Não é quando ele se arrisca
Não é quando ele se ausenta
Nem quando eu me desespero
Quando o amor tem mais perigo
É quando ele é mais sincero
Aprende-se a viver com isto. Como um defeito de nascença, uma doença crónica, uma carência vitamínica ou um incómodo sazonal (um pé boto, um lábio leporino, uma febre dos fenos). Aprende-se, como uma erupção cutânea, a vista cansada ou um ataque de asma. Ou como a minha avó, que um dia me disse ter vivido grande parte da vida com o fantasma mudo de um frade franciscano no seu metro quadrado: ela andava, ele andava. E como isto lhe fazia impressão quando estava com o meu avô, não pelo meu avô mas pelo frade, que nessas alturas lhe parecia aflito, sem sítio para onde fugir nem parede para a qual se virar, obrigado aos roçares pudentes das flanelas vestidas, na cama dona maria. Aprende-se a viver com isto, e a desvalorizar os encontros, as coincidências (nas datas, nos sítios, nos nomes) e os sinais premonitórios, como a forma de algumas nuvens no céu e certos desenhos que surgem do trilho deixado pelo voo tardio das aves. Aprende-se a relevar, o amor que imaginámos na rapidez de um olhar, o embaraço que pressentimos num modo de andar ou o constrangimento que quiséramos por conta de um desejo violento. E a achar normal e previsível que o telefone não toque, as notícias não cheguem e que a vida continue apesar de. Aprende-se a viver com isto, com o teu ectoplasma quase colado à minha pele, sem teres para onde fugir nem parede para a qual te virares, quando dispo as minhas flanelas e entro na noite de rompão, fingindo que não é para ti que fico nua no escuro.
http://umamoratrevido.blogspot.com/
amei esse texto, com certeza tudo que ela diz é verdade...mas tenho certeza que tudo isso passa,até acabar precisamos viver tudo isso.quem se entrega a outra paixão tão logo acaba um romance não interioriza suas emoções,não aprende com as situações, não sabe viver sozinho ...e quem não sabe viver sozinho, não aprendeu a viver com outra pessoa também...quem não gosta de ouvir o som do silêncio e principalmente o silêncio interior, não sabe respeitar o silêncio do outro...
Quem Sou Eu? (TKM - Fogovivo)
Eu sou a curva fechada
E a voz embargada
Sou o medo da derrota
E o final da anedota
Eu sou o vento frio
Que te provoca arrepio
Sou a água fervente
na sua dor de dente
Sou a pancada que acerta
Na ferida aberta
Sou o rosnar do cão
E a briga por um pão
Eu sou o relógio parado
E um cigarro apagado
Eu sou um purgante
No frasco de adoçante
Eu sou a vergonha de viver
E a vontade de beber
Eu sou a água imunda
Onde o barco afunda
Sou a pergunta repetida
E a verdade escondida
Eu sou a bula do remédio
E um dia de tédio
Eu sou aquilo que não presta
E tudo que te resta.
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Nada (TKM - Fogovivo)
Nada supera a razão
Nem a alma, nem o coração.
Nada supera um sentimento
nem o que vejo, nem o que invento.
Nada supera a alegria
nem a flor, nem a poesia.
Nada supera a dor
nem o riso, nem o amor.
Nada supera a saudade
nem o fogo, nem a tempestade.
Nada iguala um amigo
nem o que penso, nem o que digo.
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