domingo, agosto 31
Sou um estrangeiro em mim,
Torno a voltar num país de sonho,
De luz e de infância
Perdido num vendaval de espumas.
Aquela voz que chamava
Já não existe mais,
Mudou-se para o desconhecido.
Estou só num mundo de lembranças
Que brotam como erva-daninha
Sempre e sempre.
Estou quieto numa morna solidão de tédio
E minha esperança é essa voz
Que ecoa sem se importar com nada.
Vem-me falar ainda uma vez!
Acalma-me neste país de solidão.
Traga-me um sopro de alento
Que morro de estar vivo.
Nesse insondável mistério de você
Que de tão perto se faz tão distante,
Pare de mostra-me que é preciso
Menos que a morte
Para me fazer morrer.
rachel dias de moraes
Foi tanta ânsia louca
De te ter dentro de mim,
Que me fiz desatar
Dessa vontade enfim.
Articulei uma lógica
Insensata e cega
De precipitar-me
Atravessando-me em ti.
Decifrei poros,
Descobri músculos,
Penetrei mistérios
Até dobrar-me
Neste frenesi.
Despertei teu rastro
Encontrando algo que
Cintila um astro
Encaixando em mim.
Arrastamo-nos um ao outro
Com a avidez de um louco
Dilatamo-nos,
Eu em ti,
Tu em mim.
E irremediavelmente
Como água limpa,
Derramo-me
Neste corpo urgente
Que sedento sela
Sua vontade em mim.
rachel dias de moraes
Vem e sacia-me
Desta fome estranha,
Que cresce e possui-me.
Vem alimentar-me
Daquilo que excede,
Que é bem maior
E que me impele a ti.
Já não me basta
Esse alimento que
Quer-se sempre mais!
Meu desejo é chama
Que arde eternamente,
Que vem de não sei onde,
Que não tem fim nem começo,
Que está aquém de mim.
Disseco-me
Arrebato-me em ti,
Que fomenta o meu desejo.
Atenda-me agora
Tirano enigmático,
Interpreta-me com seus dedos,
Com suas interrogações,
Que incendiarei para ti.
rachel dias de moraes
Eu e tu: a existência repartida
Por duas almas; duas almas numa
Só existência. Tu e eu: a vida
De duas vidas que uma só resuma.
Vida de dois, em cada um vivida,
Vida de um só vivida em dois; em suma:
A essência unida à essência, sem que alguma
Perca o ser una, sendo à outra unida.
Duplo egoísmo altruísta, a cujo enleio
No próprio coração cada qual sente
A chama que em si nutre o incêndio alheio.
Ó mistério do amor onipotente,
Que eternamente eu viva no teu seio,
E vivas no meu seio eternamente.
silva ramos
Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.
Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.
São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.
Simpatia - meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é quase amor!
casimiro de abreu
As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
Fico ao teu lado.
cecilia meireles
É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
cecilia meireles
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- ...sou uma mulher como todas do planeta, que merece amar e ser amada.
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