sexta-feira, maio 16
Os versos que te dou
Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...
E hei de faze-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...
Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escuta-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura...
Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revive-los nas
lembranças que a vida não desfez...
E ao lê-los...com saudade em tua dor...
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...
Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou...
Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.
(Poema de JG de Araújo Jorge
do livro "Meu Céu Interior" – 1934)
Vício
Tu nunca bates no meu pensamento à hora de entrar.
Chegas de repente, invades tudo, e é impossível te expulsar
por que então já sou eu que te procuro.
Não escolhes momento. É na hora séria ou na hora triste,
na hora romântica, ou na hora de tédio
por mais que me encontres fechado em mim mesmo
entras pelo pensamento, - clara fresta, vulnerável
às lembranças do teu desejo.
E quando chegas assim, estremeço até regiões ignoradas
me levanto, e saio, sonâmbulo, a te buscar
a caminhar a esmo ...
Chegas - como uma crise a um asmático, - e então
[preciso de ti
como preciso de ar,
e tenho a impressão de que se não te alcanço, se não
[te encontro,
vou morrer, miserável, como um transeunte nas ruas,
antes que o socorro chegue para salvá-lo ...
alcançar-te é um suplício ...
Teu amor para mim - é humilhante a confissão
-Depois que consegues atingir meu pensamento
tua posse é uma obsessão,
não é amor, é vicio ...
(Poema de JG de Araujo Jorge
do livro – Harpa Submersa – 1952)
SAUDADES
Que saudades amor!
Saudades dos teus beijos...
Dos teus lábios tão macios...e doces...
Como os sinto...juntinhos aos meus...!
Bem cá dentro de mim,
Minha boca, sente saudade da tua boca quente!
Ai amor, que forte este sentir...
Bem cá dentro de mim!
Só Deus sabe me entender...
O que senti quando meus lábios, pela primeira vez...
Tocaram os teus...
Depois de tanto tempo sonhados!
Quis eu, fugir deste louco amor,
Que me corroía o coração...
Que estava virando loucura!!!
Loucura essa que não me era permitida sentir!
Quando te vi amor...
O meu desejo era beijar-te...abraçar-te...
Estar dentro de ti...
Saciar este desejo...
Desejo ardente de querer-te...
De querer fazer tudo ao mesmo tempo...
Com muita sofreguidão...ansiedade...
Fazer amor contigo...amar-te completamente!
Katy Crespo - ANGOLA
DEUSA TRISTE
Não sei por que razão andas tristonha,
Se ostentas a beleza das rainhas.
A leveza que tens quando caminhas
Deixa as lindas top-models com vergonha.
Ao te ver, bela diva, a gente sonha
Com devaneio e amor nas entrelinhas...
Atenta e perspicaz, sei que adivinhas
Que o teu destino é ser sempre risonha.
Afirmação comum ninguém contesta:
É mais fácil supor o inferno em festa
Do que pensar que é triste o paraíso.
Deuses moram num céu mais-que-perfeito,
Onde sofrer não é um verbo aceito.
Recria, minha deusa, o teu sorriso.
Solange Rech
NUNCA TE PERDI
Nunca fui um herói,
Nunca soube voar,
e por trás dos meus olhos
uns olhos serenos de mar,
que te vêem fundo no mundo
e em todo o lugar.
Sou memória de ti,
tu és poema e arara.
Eu sou a sombra da fera que espera
ou a voz do Guevara.
Sou o silêncio que canto e te espanta
e que nunca te agarra.
Deixa a minha mão,
guiar o teu caminho,
não é a solidão que faz um homem sozinho,
é a paz na dor que sei de cor,
e o teu sabor no céu que é meu, e onde grito:
Eu nunca te perdi,
e nunca te deixei,
eu nunca te esqueci,
em ti eu repousei,
eu nunca te perdi,
e nunca te deixei,
eu nunca te esqueci,
por ti eu despertei.
Eu nunca te perdi.
Eu já não sou o mesmo,
não sou mais o mágico que te encantou,
que te levou ao deserto, tão perto daquilo que sou,
que te fez forte e rio e mar que agora secou.
Eu já não sou eterno,
sou mais uma página do teu caderno
rasgada e arrancada à força do vento,
tantas vezes escrita no carinho do tempo,
e as noites perdidas que dizias que não,
janelas fechadas a esconder a razão...
Deixa o meu olhar ser luz na tua estrada,
não é ao acordar que o sonho é madrugada,
é a paz na dor que sei de cor
e o teu sabor no céu que é meu e onde grito.
Pedro Abrunhosa, in Tempo
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