sexta-feira, outubro 30
"... A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas mas não posso explicar a mim mesma..."
Alice no País das Maravilhas
quarta-feira, outubro 28
terça-feira, outubro 27
Acordo de noite subitamente.
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora,
O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez...
Fernando Pessoa
domingo, outubro 25
quinta-feira, outubro 22
terça-feira, outubro 20
Nosso amor é demais e quando amor se faz
Tudo é bem mais bonito
Nele a gente se dá muito mais do que está
E o que não está escrito
Quando a gente se abraça, tanta coisa se passa
Que não dá pra falar
Nesse encontro perfeito, entre o seu e o meu peito
Nossa roupa não dá
Nosso amor é assim, pra você e pra mim
Como manda a receita
Nossas curvas se acham, nossas formas se encaixam
Na medida perfeita
Esse amor é pra nós a loucura que traz
Esse sonho de paz e é bonito demais
Quando a gente se beija, se ama e se esquece
Da vida lá fora
Cada parte de nós tem a forma ideal
Quando juntas estão, coincidência total
Do côncavo e convexo
Assim é nosso amor,
no sexo...
segunda-feira, outubro 19
queime minh'alma
queime minhas roupas
queime minha pele
queime minha boca
minh'alma queime com teu amor
minhas roupas com teu calor
minha pele com teu toque
minha boca com teu rosa-choque
queime-me por inteiro
e deixe de mim somente a brasa
alumiando a tua noite
aquecendo tua casa
e quando eu me apagar
use-me como insenso
para que eu seja o perfume
do ar que tu respiras
e que minha última essência
seja aspirada por ti
alojando-se em teus pulmões
dentro do teu peito
perto do teu coração...
Ullisses Salles
domingo, outubro 18
Passei está noite em teu quarto,
Como luz do luar entrei sem pedir licença,
Como brisa do mar coloquei meu rosto sobre o teu,
Como filhote de pássaro agasalhei-me em teus braços
E como um beija-flor que rouba o pólen
Assim são meus lábios nos teus
E como neblina que se espairece aos raios solares
Assim sou eu, nesta manhã de um novo dia...
Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima …
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza …
Tu mudaste a Natureza …
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
Alberto Caiero
sexta-feira, outubro 16
Diz tua boca: “Vem!”
“Inda mais!” diz a minha, a soluçar…Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
“Morde também!”
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morro por teu amor!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!
Olavo Bilac
quarta-feira, outubro 14
O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
Clarice Lispector
terça-feira, outubro 13
segunda-feira, outubro 12
“As pessoas vêem as estrelas de maneira diferente.
Para aqueles que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para os sábios, elas são problemas. Para o empresário, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve... (...)
Quando olhares o céu de noite, eu estarei habitando uma delas, e de lá estarei rindo; então será, para ti, como se todas as estrelas rissem! Desta forma, tu, e somente tu, terás estrelas que sabem rir! (...) E quando estiveres consolado (a gente sempre se consola), tu ficarás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E às vezes abrirás tua janela apenas pelo simples prazer... E teus amigos ficarão espantados de ver-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: “Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!”
Antoine de Saint-Exupéry
E então soprou um vento de ternura intensa.
E as nuvens se dispersaram, e eu vi que meu coração emergia
como um alto cume de montanha, dourado de sol,
musicado de pássaros e águas.
Olhava teus olhos, tuas mãos, teus cabelos, teu corpo...
Teu corpo era como um caminho sinuoso por onde saí desesperado
a procurar-te.
E, de repente, tomei-te nos braços, afaguei-te a cintura,
recolhi-te ao meu peito.
Teu coração inquieto pulsava mais que o córrego das montanhas,
batia asas de pássaro encandeado.
E de repente saímos livres e felizes, como simples animais de Deus
com a direção dos ventos.
Faminto, colhi-te como um fruto! Sedento, bebi-te como a água!
Marquei meus dentes em tua carne
e escorreste pela minha boca, pelo meu pescoço, pelo meu peito.
Meus braços foram tuas formas. Minhas mãos te conheceram.
Desmanchei-te os cabelos, e me perdi.
Nossas bocas se uniram, e se esqueceram.
Tatearam meus lábios escalando cumes, devassando vales.
E fiquei em ti, vivo e silencioso, como o sangue nas veias,
como a seiva na raiz.
E desci sobre ti e me entranhei, como a chuva descendo e molhando.
E quando falamos: era música. em tua vida!
j.g.de araújo jorge
domingo, outubro 11
"Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens…
não queiras ser o de amnhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
És tu."
CECÍLIA MEIRELES
sábado, outubro 10
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.
Eugenio de Andrade
sexta-feira, outubro 9
” Ninguém pode construir em teu lugar
as pontes que precisarás passar para
atravessar o rio da vida.
Ninguém exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números
e pontes, e semi-deuses que se oferecerão
para levar-te além do rio, mas isso te
custaria a tua própria pessoa.
Tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde
só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o.”
Nietzsche
quinta-feira, outubro 8
quarta-feira, outubro 7
terça-feira, outubro 6
Se eu fosse um padre,
eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições…
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
…e um belo poema
ainda que de Deus se aparte
um belo poema sempre leva a Deus!
Mário Quintana
segunda-feira, outubro 5
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma…Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas…
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua…, – unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois… – abre os teus olhos...
Enterra-os bem nos meus; não digas nada…
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José Régio
domingo, outubro 4
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
Vinícius de Moraes
sábado, outubro 3
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