sábado, abril 26


“... Eu me desnudo emocionalmente quando confesso minha carência –
que estarei perdido sem você, que não sou necessariamente a pessoa independente que tentei aparentar.
Na verdade, não passo de um fraco, cuja noção dos rumos ou do significado da vida é muito restrita.
Quando choro e lhe conto coisas que, confio, serão mantidas em segredo, coisas que me levarão à destruição, caso terceiros tomem conhecimento delas,
quando vou a festas e não me entrego ao jogo da sedução porque reconheço que só você me interessa,
estou me privando de uma ilusão há muito acalentada de invulnerabilidade.
Me torno indefeso e confiante como a pessoa no truque circense, presa a uma prancha sobre a qual um atirador de facas exercita sua perícia e as lâminas que eu mesmo forneci passam a poucos centímetros da minha pele.
Eu permito que você assista a minha humilhação, insegurança e tropeços.
Exponho minha falta de amor-próprio, me tornando, dessa forma, incapaz de convencer você (seria realmente necessário?) a mudar de atitude.
Sou fraco quando exibo meu rosto apavorado na madrugada, ansioso ante a existência, esquecido das filosofias otimistas e entusiasmadas que recitei durante o jantar. Aprendi a aceitar o enorme risco de que, embora eu não seja uma pessoa atraente e confiante,
embora você tenha a seu dispor um catálogo vasto de meus medos e fobias,
você pode, mesmo assim, me amar...



O movimento romântico – Alain de Botton
foto john everett millais

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