sábado, agosto 23


O desejo de perfeição consiste nisto: seja qual for a sua situação, ela nunca satisfaz. Nunca é como deveria ser, há sempre um senão. Você ainda fica imaginando um estado melhor das coisas, melhores dias, melhores possibilidades. E fica ansiando por elas.
O desaparecimento desse desejo é um grande alívio, porque só então você poderá começar a viver cada momento. Como você consegue viver com esse desejo de perfeição? Ele é a fonte de todas as neuroses.
O homem que deseja ser perfeito, inevitavelmente torna-se um neurótico, porque não consegue estar aqui. Ele vive no futuro, que não existe. Não pode desfrutar o presente momento, só condená-lo. Não pode amar esta mulher, porque tem uma idéia da mulher perfeita. Não pode amar este homem, porque ele não é perfeito. Não pode saborear este alimento, esta refeição, esta manhã, nada mais o satisfaz, não pode satisfazer. Sua expectativa está sempre presente: ele está sempre comparando e sempre se decepcionando.
O homem que vive com desejo de perfeição, tem a vida condenada. E a sociedade colabora com isso. Os pais, as escolas, os colégios, as universidades, os mahatmas , os sacerdotes, os políticos, todos colaboram para neurotizá-lo.
Desde a infância, você não é aceito como você é. Disseram-lhe: “Seja desta maneira, só assim você será aceito”. Se quiser viver a vida do seu jeito, você será condenado por todos, todos ficarão contra você. Seus pais não poderão suportá-lo. Precisam moldar, formar, mudar, manipular. Eles precisam fabricar você de acordo com os desejos deles.
O fracasso é inevitável, porque você pode estar vencendo, mas a idéia da perfeição começa a se sofisticar cada vez mais. Na medida em que se vai vencendo, a idéia começa a se distanciar mais para o futuro. Ela fica mais sofisticada, há mais expectativas...
A distância entre você e a idéia da perfeição permanece a mesma. Se você tem dez mil rúpias, precisará de cem mil para ser feliz. Quando tiver cem mil, seu desejo já caminhado para a frente; agora isto já não basta. Acontece em todas as áreas da vida.
Os pais vivem os seus próprios traumas. Por toda a vida tentaram e fracassaram; agora desejam viver através do filho. Com isso, começam a fazer dele um ser neurótico, começam a ensinar ao filho. Esta é uma forma alternativa de viver. Eles fracassaram; agora sabem que a morte se aproxima, que seus dias estão contados; eles estão perdendo a esperança. Mas então surge uma nova esperança: poder viver através do filho. Já que eles não foram perfeitos, ao menos os filhos poderão sê-lo. Dizem que uma árvore se conhece pelos seus frutos. Se os filhos forem perfeitos, os pais devem ter sido perfeitos.
É assim que a neurose se perpetua, de geração em geração. Os pais estão constantemente tentando, de todas as formas, aperfeiçoar a criança. Só o que conseguem com essa atitude é fazer com que ela se sinta condenada como ela é. Eles tornam impossível que ela ame a si mesma, respeite a si mesma. E quando perde o amor e o respeito por si, uma pessoa está perdida.
O mundo sofre tanta loucura, todo tipo de problemas mentais, de doenças físicas. Noventa e nove por cento das causas de todos esses problemas do corpo e da mente vêm da mentalidade que a criança tem de ser perfeita.

Uma família foi a um restaurante. Depois de anotar o pedido dos adultos, a garçonete virou-se para o garotinho.
“O que você vai querer, filhinho?”
“Eu quero um cachorro-quente”, respondeu o garoto, timidamente.
Antes que a garçonete pudesse anotar o pedido, a mãe interrompeu: “Não, nada de cachorro-quente. Traga batatas, um bife e cenouras”.
A garçonete ignorou-a totalmente.
“Você prefere ketchup ou mostarda em seu cachorro-quente?” perguntou ao garoto.
“Ketchup”, respondeu ele, com um sorriso de felicidade.
“Já vai sair”, disse a garçonete, indo para a cozinha.
Foi um espanto geral.
Finalmente, o garoto perguntou aos pais. “Vocês viram? Ela acha que eu sou real!”

É aí que nasce o problema: vocês não permitem que seus filhos sejam reais. Fazem com que eles se sintam irreais, vocês os forçam a se sentir falsos, rejeitados, inúteis. E quando essa idéia é criada na mente de vocês, que eles são inúteis do jeito que são, é natural que surja neles um grande desejo de ser perfeitos, e com isto todo o tipo de neurose.
Meu empenho aqui é em ajudar você, não a ser perfeito, mas a abandonar toda essa besteira. Abandonando-a, pela primeira vez você será real.
A realidade nunca é perfeita, lembre-se. Se a realidade está sempre crescendo, como ela pode ser perfeita? Se alguma coisa é perfeita, o crescimento é impossível. Só a imperfeição pode sentir a alegria do crescimento.
Você deseja permanecer como uma flor, crescendo, abrindo-se? Ou deseja tornar-se apenas uma pedra morta, perfeita, sem abertura, sem crescimento, sem mudança? Seja imperfeito respeite suas imperfeições, e você poderá alegrar-se e celebrar, poderá ser saudável e inteiro. E não precisará procurar um psiquiatra ou um psicanalista para ficar por anos deitado num divã, falando besteiras. E também não haverá necessidade de qualquer tratamento de choque. Na verdade, se o seu estresse mental desaparecer, o seu corpo se sentirá imediatamente relaxado.


Muitas doenças desapareceriam automaticamente da face da Terra, se essa idéia idiota de tornar-se perfeito desaparecesse. Mas ela tem sido ensinada de toda parte, nas igrejas, nos templos, nas mesquitas, nas universidades. Em todo lugar, todos parecer estar envolvidos nessa conspiração. Parecem absolutamente determinados a tornar todas as pessoas perfeitas. Ora, jamais existiu um único ser humano perfeito, e não pode existir. A imperfeição é o modo de ser das coisas. A imperfeição é bela, porque tem potencial para crescer e fluir. A perfeição é simplesmente a morte, nada mais. A vida é imperfeita. E a vida gosta da imperfeição.
Eu lhes ensino a totalidade e não a perfeição: são dois objetivos diferentes. A perfeição é um objetivo neurótico, a totalidade é um objetivo saudável. A perfeição está no futuro, a totalidade está aqui e agora. Você pode ser total neste momento. Pode ser total em sua raiva, pode ser total em seu sexo, pode ser total em tudo o que esteja fazendo, limpando o chão, cozinhando, escrevendo poesia. Você pode ser total! neste momento! Isso não exige preparação, não exige treinamento.
Sendo total, você entrará em Deus, entrará no nirvana. Quando se é total, o eu desaparece – esta é a beleza da totalidade. Tente entender, é sutil, é imensamente importante: quando se é total, o eu desaparece.
Você já experimentou um momento total? Então sabe que o eu desaparece imediatamente. Se você está totalmente apaixonado por uma mulher ou por um homem, o eu desaparece. Quando está fazendo amor, se é total, o eu desaparece. Se você sai de manhã para um passeio e é total nisso, nada mais importa, nesses lindos momentos, apenas a manhã e você, você e a manhã, os pássaros, as árvores e o sol. Você está totalmente imerso, profundamente imerso no momento – o eu desaparece.
O desaparecimento do eu é uma bênção. Você saberá o que Buda quer dizer com o “não-eu”, a total bem-aventurança. Ele jamais usa as palavras: “total bem-aventurança”, porque conhece você – você poderia fazer dela um objetivo, e começar a lutar por alcançá-la. Poderia fazer dela o objetivo de um perfeccionista e dizer: “Não descansarei até que me torne totalmente bem-aventurado”. Nesse caso. você não entendeu.
Se você é total, a bem-aventurança acontece por acréscimo, porque o eu desaparece. Dançando, cantando, ouvindo música, ou apenas estando aqui comigo, às vezes acontece. Eu posso vê-la acontecendo com muitas pessoas. Quando olho para o seu rosto, sei se há um eu ou não; o rosto assume imediatamente uma outra qualidade. Quando olho para você e não existe o eu, você é apenas uma abertura, uma janela, e eu posso ver claramente Deus em você. Nesses momentos, Deus está presente, você não está. Todas as nuvens desapareceram, o céu ficou claro e transparente, o sol está brilhando.
Sempre que o seu eu desaparece por um momento, de repente posso ver a luminosidade que vem em seu rosto, a qualidade de magia que nasce ao seu redor. Mas fomos ensinados a viver de um modo não-total através da idéia de perfeição.
Eu lhes ensino a totalidade. Na totalidade, o eu desaparece; com a perfeição, acontece justamente o contrário. Com a idéia de perfeição, o eu é reforçado. É um ideal egoísta: “Eu quero ser perfeito”. O eu não pode ser total, porque nenhum eu pode ser encontrado na totalidade. Por isso, o ego tem interesse em tornar-se perfeito, ser o homem mais perfeito ou a mulher mais perfeita no mundo. O ego se sente muito bem, começa a lutar nesse sentido. O ego está envolvido com a idéia de perfeição.
Com a experiência da totalidade, o ego simplesmente não existe. Se você aprender como estar aqui e agora, pouco a pouco verá que a vida é linda do jeito que é. A vida é linda em ser-assim, em sua qualidade de ser ,como Não necessita de nenhum aperfeiçoamento.

osho

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