sábado, fevereiro 28


Meu frágil coração, para que adoras,
Para que adoras, se não tens ventura?
Se uns olhos, de quem ardes na luz pura,
Folgando estão das lágrimas que choras?

Os dias vês fugir, voar as horas,
Sem achar neles viso de ternura
E inda a louca esperança te figura
O prêmio dos martírios que devoras!
Desfaze as trevas de um funesto engano,
Que não hás de vencer a inimizade
De um gênio contra ti sempre tirano:

A justa, a sacrossanta divindade
Não força, não violenta o peito humano,
E queres constranger-lhe a liberdade?





Trecho de OS AMORES de Bocage

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