domingo, agosto 3


A minha dor é um convento ideal

Cheio de claustros, sombras, arcarias,

Aonde a pedra em convulsões sombrias

Tem linhas dum requinte escultural.


Os sinos têm dobres d´agonias

Ao gemer, comovidos, o seu mal…

E todos têm sons de funeral

Ao bater horas, no correr dos dias…


A minha dor é um convento. Há lírios

Dum roxo macerado de martírios,

Tão belos como nunca os viu alguém!


Nesse triste convento aonde eu moro,

Noites e dias rezo e grito e choro!

E ninguém ouve… ninguém vê… ninguém…



Florbela Espanca

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