terça-feira, abril 29


É estranho que o mundo silencie, breve e triste, e que em minha boca fechada as palavras batam asas, angústia de dizer, e o corpo se agite, animal faminto. Tu permaneces, acima das horas e sobre os dias, como se horas e dias não houvessem, como se o tempo fosse um besouro enredado em meus cabelos e teus dedos fossem sua improvável salvação. Não me comove a chuva, ou a beleza do silêncio. Sou toda um esgar contido, um pequeno frêmito de superfície onde nas profundezas desmoronam cada um dos meus degraus. Esqueço teus olhos. Esqueço tua pele. Esqueço o cheiro que só existe em certas partes do teu corpo. Esqueço de mim, um tanto. Morro, um tanto. Então escrevo para contar àquela de mim do que me compus. E escrevo de novo para lembrar a ti do que me fizeste.

fonte patricia antoniete
http://www.naodiscuto.com/

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