segunda-feira, abril 14

NAO DESISTA


Amanheceu, mas você prefere continuar na cama;
não possui forças suficientes para levantar-se e sair do quarto, da casa, e enfrentar os problemas que o esperam.
À noite, você não conseguiu dormir, nunca teve insônia, mas foi impedido de relaxar; sempre que fechava os olhos, ouvia barulhos ensurdecedores, vindos da cabeça, e via imagens de momentos tristes, angustiantes.
Os fantasmas da preocupação o assombravam, rodopiando em sua frente, exaurindo o resquício de força que ainda possuía.
“Não agüento mais!”, você disse em voz alta,
querendo desistir de tudo, inclusive de você mesmo.
Àquela altura, a solidão corroía seus sentimentos, e, mais que estar só,
você era só, não tinha com quem conversar,
dividir os problemas, ouvir conselhos e receber o calor reconfortante de um abraço; você olhava-se no espelho e o reflexo não era o seu, era de alguém com os cabelos desgrenhados,
os olhos inchados de tanto chorar, o rosto abatido, cravejado de rugas
– rugas que surgiram da noite para o dia.
Enfim, era o reflexo de uma vida dilacerada pelo sofrimento.
Você sentia-se um morto-vivo e parecia não haver nada que pudesse mudar aquela situação.


Para que sair se o terreno em que iria pisar estava todo minado, prestes a explodir e acabar com você de uma vez por todas?
Você não quer olhar para ninguém,
porquê ninguém irá olhar em seus olhos e perguntar se está bem,
se está precisando de alguma coisa, se quer conversar, se quer desabafar.
As pessoas, na frieza do cotidiano acelerado, passarão por você e, nem mesmo, o cumprimentarão;
isto fará com que sinta-se invisível, inferior,
fará com que sinta-se incapaz de provocar uma reação alheia,
fará com que sinta-se um verdadeiro joão-ninguém.


É melhor permanecer em casa, no quarto, na cama, no escuro, no calor do dia, longe de tudo, mas próximo à sensação deprimente que o sufoca, que o açoita a todo instante, querendo retirar a fagulha de esperança que teima em esconder-se em seu coração. “Não adianta. É o fim.”, você pensou, enquanto as lágrimas escorrem de seus olhos, e seu peito arde de dor, de angústia. É melhor desistir de tudo, de si mesmo.


Não desista.
Busque a força que está represada em seu coração,
transforme o sofrimento num gerador de força e prossiga. Levante-se, não só da cama, mas da situação que o domina.
Lute e vença, porque você é capaz.
Basta querer lutar e querer vencer.
A vida é constituída de problemas: contas (viver é caro!),
carros quebrados, canos entupidos, ruas esburacadas,
festas barulhentas no vizinho, perseguições no trabalho,
amores não-correspondidos, saudades, solidões, dores, doenças...
Mas sempre há solução, mesmo quando parece não haver.
A solução está na vida, porque a vida, mais que tristeza e sofrimento,
é alegria e contentamento.


Não desista.
Deixe os lamentos, as lembranças amargurantes,
a pena de si mesmo, e reconheça que nasceu para ser feliz e para contribuir com a felicidade alheia, reconheça que cada situação difícil traz em si fortalecimento e ensino;
o fortalecimento do espírito que não julga e não condena, mas perdoa,
e o ensino de que nada acontece em vão, tudo tem um sentido, uma explicação, um porquê.
Não desista.
A carga é pesada, mas seus ombros são fortes.
Deixe a inferioridade, porque você é importante.
Tenha consciência que não é o fim, mas o início
– o início de uma etapa de alegria.
Não pense que ninguém se importa com você, não pense que está só,
à margem de todos e tudo.
Há quem preocupa-se com você;
não fuja de quem o quer bem.
Permita que a fagulha de esperança torne-se uma chama em seu coração,
consumindo a dor, e, como um guerreiro,
arme-se com a coragem, a força e a determinação,
e caminhe pelo terreno minado,
desviando-se do perigo e destruindo as bestas-feras que colocarem-se em seu caminho.


(Nota: Crônica escrita ao Jornal da Cidade – de Bauru – e publicada na edição de 06/02/2007)


(Arte: “Winter (The Snowstorm)”, 1786, de Francisco de Goya)

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